Cultura organizacional: O diferencial silencioso para o sucesso em qualquer cenário


No mundo dos negócios é comum que as empresas sejam frequentemente medidas por aspectos que são facilmente quantificáveis, como seus lucros, participação de mercado e até mesmo as inovações que introduzem. No entanto, algo invisível, mas profundamente influente, está por trás das operações de muitas das organizações bem-sucedidas em seus mercados: a cultura organizacional.

A frase dita pelo pai da administração moderna, Peter Drucker: “A cultura come a estratégia no café da manhã", ressalta o poder que a cultura organizacional exerce sobre as atividades de um negócio. E não se trata apenas de uma frase de efeito. Pesquisa realizada pela Deloitte revela que 82% dos participantes consideram a cultura como uma destacada vantagem competitiva. E isso se traduz em resultados: empresas com culturas robustas e bem definidas costumam apresentar maior engajamento de seus colaboradores, mais satisfação por parte de seus clientes e, por consequência, lucros expressivos.

Lembro-me de conviver com amigos que levavam para a vida pessoal a competição entre marcas de cervejas e refrigerantes. Posso citar a Ambev, como uma das organizações com mais profunda cultura corporativa desde os anos 1990, quando Lemann, Telles e Sicupira começaram a migrar do mercado financeiro para o de produtos, comprando a indústria centenária que produzia as marcas Brahma, e iniciaram uma trajetória baseada na cultura corporativa, para se tornar o maior conglomerado de cerveja do mundo. O que se verificou nesse ciclo vencedor foi uma cultura tão forte quanto profunda e complexa.

Nesse cenário, é importante destacar o papel de algumas empresas brasileiras que têm se destacado não apenas por seus produtos ou serviços, mas principalmente pela cultura corporativa que cultivam. O Nubank, por exemplo, em pouco tempo, saiu do patamar de uma startup e consolidou-se como um dos principais bancos digitais da América Latina. Grande parte desse sucesso é creditada à sua postura de colocar o cliente como protagonista, e pela transparência nas operações.

A Magazine Luiza, uma empresa que já tinha uma trajetória consolidada antes mesmo da popularização do digital, soube se reinventar. E nessa transformação a cultura que fomenta a inovação e o bem-estar de seus associados desempenhou um papel crucial, impulsionando a empresa em um mercado de varejo altamente competitivo.

A Reserva, marca brasileira de vestuário, vai além das roupas que vende. Ela se destaca por uma cultura que preza pela responsabilidade social, seja por meio de campanhas de doação ou por outras iniciativas que geram impacto positivo na comunidade. Enquanto isso, a TOTVS, líder no segmento de softwares de gestão, tem na inovação contínua um pilar cultural, confiando que a união de tecnologia de ponta e um time comprometido pode enfrentar e superar qualquer desafio.

O ponto de convergência entre todas essas empresas é o valor que dão ao capital humano. A cultura organizacional não se resume a um conjunto de palavras bonitas em um mural ou em um site. É algo que deve ser pulsante nessas organizações, praticado e sentido por todos que fazem parte dela. Richard Branson, fundador da Virgin Group, tem uma fala que ilustra bem essa ideia: "Os clientes não vêm em primeiro lugar. Os funcionários vêm em primeiro lugar. Se cuidarmos bem deles, eles cuidarão dos clientes". Essa assertiva cria uma segunda questão importante na cultura organizacional: a figura do mito. As pessoas precisam adorar alguém, e 71% das organizações têm um herói que personifica a cultura da empresa, segundo estudos de Silvio Johann para o livro "Gestão da Cultura Corporativa". Todo SBT tem um Silvio Santos para adorar.

Em uma era em que o mercado é cada vez mais globalizado e a concorrência, mais acirrada, desconsiderar a importância da cultura organizacional pode ser um erro fatal. As organizações que reconhecem, valorizam e investem em sua cultura tendem a estar mais alinhadas, são mais resilientes às adversidades e têm uma capacidade ampliada de inovação. O panorama empresarial brasileiro reforça essa ideia: uma cultura organizacional sólida e bem cultivada pode ser o fator decisivo entre o sucesso e o fracasso de uma empresa.

Autor: Bruno Netto do Espírito Santo é Diretor de Planejamento Estratégico na Assembleia Legislativa de Goiás